segunda-feira, 16 de maio de 2011

"Cisne Negro" no Divã - parte 2


O filme "Cisne Negro" veio para ser lembrado além do Oscar recebido pela atriz Natalie Portman.
Compartilho mais uma contribuição de seguidores do blog:


"Cisne Negro" é um filme de fantasia...? Muitos diriam que sim! Eu mesma, assim que levantei da poltrona do cinema quando fui assistir (com muita expectativa pela combinação pontual da minha paixão por cinema com minha profissão enquanto psicóloga e, mais ainda, com meus anos de estudo e amor pelo ballet), ouvi muitos comentários tais como: "que filme louco!", "que viagem”... ou mesmo "Coitada"!!!

É... "Cisne Negro" é um filme denso e tenso, cheio de conflitos, medo e desejo, ação e passividade. Muitos acharam o filme "louco", outros (dois na minha sessão) saíram ainda na metade da apresentação. Pessoas "menos sensíveis", poderíamos julgar, esboçaram sorrisos ou mesmo gargalhadas ao final, enquanto comentavam sobre a "viagem" que o filme mostra! Não. Não se pode julgar a sensibilidade alheia e é exatamente isso que o filme mostra, também.

O filme é uma obra de arte do diretor Darren Aronovsky, a meu ver, por conseguir a proeza de traduzir em imagens e construções verbais a tensão psicológica e emocional que todos vivemos. Ele se aproveitou do seu talento e da magia de infinitas possibilidades que o cinema oferece para colocar nas telas uma história que nada mais é do que a luta tensa, conflituosa e cíclica que todo ser humano trava com seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. Como diria uma professora minha da época de faculdade: "ainda bem que temos comportamento privado"!

O comportamento privado nada mais seria do que nossos pensamentos e "sentimentos”. Aquilo que "se comporta" privadamente, que cada um conhece e tem acesso a todo instante. Afinal, é difícil não pensar em nada, não é? A saga de Nina, que é mostrada com intensidade e maravilhoso acompanhamento sonoro, é vivida por todos nós, todo dia. Quem nunca teve um pensamento "paranoico"? Quem nunca "imaginou coisas" que nem por um decreto ousaria comentar em voz alta ou colocar em ação?

Nesse sentido que "Cisne Negro" é um filme REAL, muito real, mas que, por isso mesmo, é também um filme cheio de fantasias! A verdade é que a vida é intensa e muito angustiante, sim! Estamos o tempo todo pensando, sentindo, vivendo, imaginando e se comportando, nem sempre de forma controlada e nem sempre com base em "verdades".

Lá vem outra questão que o filme traz como pauta ampla: a percepção. Quantos de nós e por quantas vezes não tivemos uma percepção "equivocada" de algo ou de alguém em algum momento? A percepção é um ângulo... uma forma de visão, que pode mudar a qualquer momento. Tudo isso é mostrado em imagens fortes que mostram a confusão que a bailarina Nina vive para enfrentar seus desejos e medos e dançar o cisne negro. Afinal, o branco ela dança perfeitamente. Mas nada é perfeito, não é? Nem infinito!

O equilíbrio entre a leveza e a pureza do cisne branco e a agressividade e sensualidade do cisne negro é como o filme: uma fantasia real... ou seria uma real fantasia? Talvez o filme tenha deixado um recado ao seu final arrebatador: nem tudo é o que parece. A perfeição é sim atingível, mas somente no âmbito da arte. Por isso a arte e todas suas formas são tão sedutoras e belas. Todos nós vivemos lutas entre o cisne branco e o negro, mas cabe lembrar que nada é branco ou preto, sim ou não. E isso também é bagagem que o filme nos possibilita levar.

Nina vê na imagem da personagem da Mila Kunis uma rival, fantasia e projeta de forma permanente e cada vez mais intensa. Em sua imaginação todos podem virar vilões, afinal ela está em uma guerra, mas trata-se de uma guerra psicológica, que todos nós travamos e que teremos que "controlar" todos os dias, em situações diversas.
"É difícil a vida da bailarina"!
O medo, realmente, mora perto das ideias loucas.

Como canta Chorão, o vocalista da banda de rock brasileira "Charlie Brown Jr", que sempre ouvi e que também faz poesia: "o impossível é só questão de opinião, e disso os loucos sabem.”
A loucura e a sanidade são polos mais próximos do que a maioria imagina, mas isso é pessoal.
Como disse Caetano: "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".
Que o diga Nina!

Talita Teresa Gomes Furtado - Psicóloga e mestra em Políticas Públicas.

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