quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Um bar suspenso no céu


Apenas para os insensíveis olhar para o Cristo iluminado, numa noite  de verão, não acaricia a alma, ainda que a cena  pareça corriqueira, comum.
Mas eu achei um modo singular de ver o mesmo de outra forma, com imensa emoção e enorme satisfação pelo  achado.
E para aumentar o majestoso momento, ver uma palmeira imperial, imponente e longilínea, seguir céu acima como se quisesse viajar pelo espaço sideral.
O Paxeco Bar, na mesma rua do Jojô, no Jardim Botânico, é um lugar diferente.
Um terraço suspenso, com surpresas de um cardápio descolado e bebidas a gosto.
Decoração pessoal, mesas ao ar livre, pouca luz - para prestigiar o céu, eu imagino - e gente bonita, alegre, feliz, mesmo os não cariocas.
Mas é o olhar para cima que o distingue.
Explico.
De seu terraço suspenso, pode-se ver o Cristo Redentor cheio de amor e luz, olhando-se para um lado, e apreciar uma palmeira imperial que parece sumir no escuro, olhando-se para outro.
Que cena! Que visão única! Que coisa linda!
Não há lugar na cidade em que isso se repita. Menos pelo Redentor, pois ele se vê de quase todos os pontos, mas pela companhia da palmeira. Aquela é a única que cresceu fora do Jardim Botânico, na calçada da morada onde o bar se esconde no segundo andar.
Pela mesa passaram bolinhos picantes de arroz da Tailândia, pastéis de caranguejo, rocambole de mussarela de búfalo, tomates e manjericão e uma linguiça esbelta e enrolada em si mesma, escondendo um recheio de creme de queijo. Uma pitada de pimenta, sempre por perto, fustigava o paladar.
Mas o Paxeco, esse bar que surge ao final da escada estreita, é, na verdade, um lugar de coisas que estão no céu e que nos fazem sair do chão.
O seu melhor aperitivo é para os olhos e a alma.
  
Para chegar ao terraço suspenso suba a escada(hehehe)


domingo, 15 de janeiro de 2012

Você conhece um jardim de ostras e champanhe? Roteiro, sim.

Tom Jobim escreveu  "Passarada", dizem, inspirado num de seus lugares preferidos, o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.
O lugar é mesmo inspirador, um refúgio raro na grande cidade, ainda que neste caso a cidade tenha uma das maiores áreas de floresta urbana do mundo.
Já fiz meus passeios por lá, plantas e árvores adentro.
Outro dia fiz uma caminhada bem pertinho do Jardim, coladinho em suas grades de proteção, olhando para sua formosura.
Estava numa excursão de descobrimento. Procurava um tesouro anunciado em uma revista do jornal O Globo, que prometia o melhor do Rio. Era a segunda indicação de Airam, uma oftalmologista que vê além dos olhos.
A indicação era inusitada: Champanhe com ostras, todas as quintas-feiras, a partir das 17h00, num bistrô, rua Pacheco Leão, 812.
Depois de 15 minutos de caminhada, avistamos o Jojô, num cantinho de rua. Como estávamos fantasiados com alma de britânicos, chegamos sete minutos antes. Tivemos que esperar o badalar das cinco.
A casa é pequena, com mesas na calçada, com cardápio delicado e charmoso de sotaque francês e que vai de chás a iguarias com foie gras.
Por razões não totalmente explicadas, fomos avisados que naquele dia alguns imprevistos iriam atrasar a abertura do pequeno restaurante.
Sentamos em um banco de espera, estrategicamente colocado, e avistamos a chegada da estrela da tarde.
As ostras desembarcaram de uma vistosa caixa de isopor made in Santa Catarina. Considerei um bom presságio.
Vimos que o talentoso abridor de ostras usava luvas. Outro bom sinal. Ele prepara as ostras ao ar livre.
Casa aberta, fomos ao pedido.
Uma taça de champanhe francês brut (menos de 15 gramas de açúcar por litro) para cada um e doze ostras para experimentar.
Todos tinham um expectativa clara. Será que a combinação era uma boa ideia?
Servidas com delicadeza e requinte, prontas para serem totalmente abertas, as ostras realmente demonstravam  boa estirpe (ou mares).
Nossa, nossa....delícia, delícia...assim você me mata..... A champanhe bem gelada recolheu o gosto de mar e  limão que ficou na boca, refrescando um final de tarde que deixou de ser misterioso e quente.
Uma surpreendente "panelinha de cogumelos"( aperitivo para duas pessoas) acompanhada de torradas(mais nas beiradas e menos na parte de dentro) transformou-se, depois, na segunda vedete da mesa.
O Jojô nasceu em agosto passado. Tom não provou. Talvez tivesse surgido uma composição com os sons dos mares.


Este post é uma homenagem a Gastão Vieira, nascido numa ilha, vivido algum tempo no Rio e apreciador de Tom Jobim.