sexta-feira, 29 de julho de 2011

"Valéria, tem um moço me bulinando"

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Há algumas semanas escrevi sobre a Maria Gadú. Dizia que enquanto milhares de pessoas procuram, às vezes com exagero, tornarem-se celebridades por algum motivo ou suposto talento, outras alcançam essa condição com emocionante naturalidade.
O Programa Zorra Total, Rede Globo, costuma apresentar talentos que arrebatam aplausos e reconhecimento quase instantâneos,  assim como Maria.
A mídia do entretenimento se rendeu, com justiça, ao ator Rodrigo Sant'anna, que surgiu no eterno A Turma do Didi  e foi se afirmando no Zorra, inicialmente como" Admilson" no quadro de “Lady Kate”,  interpretada por Katiuscia Canoro.
Na história de “Lady e Admilson” há espaco para “Clarete”(Thalita Carauta), mulher típica do universo  das favelas cariocas, rival de “Lady” nos tempos de vacas magras.     
Em sua nova fase, o programa das noites de sábado apresenta outra dupla, na qual Rodrigo interpreta "Valéria", um travesti colega de "Janete", outra personagem de Thalita Carauta e bem diferente da esperta “Clarete”. 
Apertadas feito sardinha em lata, em um trem de metrô, as duas amigas travam um bate-papo cheio de humor despretensioso e bem-vindo.
"Janete" é uma personagem múltipla. Mulher simples, fala com alguma dificuldade, fazendo sulcos nas bochechas. Traz consigo a característica das mulheres do povo, vistas como anti-modelo de beleza, e uma ingenuidade encantadora, que contrasta com a coragem de enfrentar os assédios mal comportados dentro de um trem com sintomas de Brasil, o país.
Sua fala pausada retoca o jeito peculiar. Ela é mais que engraçada. Ela é cativante. Apaixonei-me pela personagem. Há algo em sua ingenuidade que me toca profundamente.
Prestem atenção na “Janete”. Pode estar nascendo mais uma estrela, naturalmente.
Rodrigo e Thalita são amigos na vida real e fazem carreira juntos. Ela apareceu na TV como empregada doméstica na novela "Páginas da Vida", servindo à personagem de Regina Duarte.
Ambos fazem sucesso com o espetáculo "Os Suburbanos", em cartaz desde 2005.
Foi nele que foram descobertos pelo diretor de Zorra Total, Maurício Shermann.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

"Cilada.com" ou "Vapt-Vupt"

Chico Anísio é o maior ator brasileiro e não me refiro apenas a humor. É muito mais do que um comediante.
Seu filho, Bruno Mazzeo, que ficou conhecido pela série “Cilada”, do canal fechado Multishow,  parece ser o mais promissor entre os  filhos que seguiram o mestre.
Sem comparações exageradas, pode  ser uma excelente aposta para a TV, cinema e teatro.  
Esta semana ele estreou nas telonas como protagonista de “Cilada.com”(Brasil-2011), filme  que parece melhorar ainda mais as opções de comédias contemporâneas.
O filme não é “a comédia” do ano, mas é bem dirigido por José Alvarenga Jr, faz rir e inquieta com dois temas atormentadores para os homens:
O drama da ejaculação precoce e a cruel capacidade das mulheres de serem vingativas com maior eficiência.
Vocês devem lembrar-se de um livro que o Roteiro da Emoção sugeriu, chamado “Canalha, Substantivo Feminino”. Pois o filme parece ter inspiração na tese de que as mulheres são imbatíveis nas canalhices.
Bruno é "Bruno" também na ficção e interpreta o namorado vapt-vupt de "Fernanda", interpretada pela atriz Fernanda Paes Leme, a mesma que foi  assassinada cruelmente por "Leonardo-mau-caráter" em “Insensato Coração”(Brasil-2011), novela da Rede Globo.
O filme  pode fazer muita gente se identificar duplamente.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Eu estive no Titanic na noite do naufrágio

Quando eu tinha uns dez anos li sobre o naufrágio do Titanic. Lia e relia a história com grande interesse em uma edição (livro) de capa dura de "Seleções”, conhecidíssima publicação Readers Digest.
Mais recentemente, milhões de pessoas pelo mundo afora ficaram impressionadas pelo filme extraordinário, “Titanic” (EUA-1997), dirigido por James Cameron e estrelado pela dupla Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.
Aliás, este filme é um dos 10 melhores de todos os tempos.
Neste final-de-semana eu encontrei o famoso navio aqui em Brasília, ancorado ao lado de um shopping.
Fui recebido, na entrada,  por Benjamim Hart, passageiro inglês que ocupava uma cabine na segunda classe. O coração disparou e me invadiu uma emoção única e surpreendente quando pisei no deck.
No convés, espiei por uma das vigias do navio e bisbilhotei o salão de festas. Ouvi a música suave da  orquestra. Diante da escadaria principal, contive-me para não subir os degraus sem autorização.
Benjamim me explicava tudo com grande atenção e detalhes. Mostrou-me parte da louça e pertences dos hóspedes, que cuidadosamente identificava pelas classes, apontando onde ficavam seus aposentos e as diferenças existentes entre eles.
Parei e fiquei admirando um camarote da primeira classe. Havia, ainda, roupas sobre a cama, uma cartola e um chapéu de uma dama da época sobre a mesa. Os ocupantes deveriam estar passeando pelo navio, mas a mesa de refeição já estava posta, com talheres, pratos e copos finos.
Mais adiante, a entrada da caldeira fazia barulho e me assustou pelo enorme tamanho das pedras de carvão usadas para movimentar tantas máquinas.
Meu guia me apontou bolsas de couro, garrafas de vinhos e cervejas inglesas, e até uma certidão de casamento que fora encontrada junto com papéis de carta, cartões, sapatos e um urinol usado nas cabinas de terceira classe. Fiquei encantado por uma pequena caixinha de metal onde um hóspede guardava, cuidadosamente, as indispensáveis lâminas de barbear Gillette. Que registro de um tempo!
Nossos ouvidos estavam preenchidos pelos sons que vinham do mar e que se misturavam com os dos motores, numa noite estrelada, fria e misteriosa.
"Ouvimos" de um passageiro de primeira classe que aquela noite sem lua, mas repleta de estrelas, "estava tão linda que justificava agradecer a Deus pela existência".
Os passageiros e tripulantes estavam muito felizes. A noite de 14 de abril de 1912 separava-os por apenas dois dias de Nova York. A ansiedade era grande e o comandante decidiu usar força máxima, afinal aquele navio não podia ser contido, mas a decisão não fora a melhor.
De repente, percebi que já estávamos novamente no local por onde entrei. Benjamim desapareceu e surgiu em minha mão uma ficha que relatava sobre o anfitrião que me acompanhou pelo navio.  
Vocês devem estar achando que o meu lado obscuro (louco) se apresentou, finalmente, num relato um tanto insólito.
Na verdade, descrevo o que senti visitando “Titanic: A Exposição – Objetos Reais, Histórias Reais”, que contem 200 itens retirados do fundo do mar, apresenta relatos, curiosidades e recria a atmosfera de uma tragédia.
Vinte e dois milhões de pessoas, em 85 cidades do planeta, já a visitaram.
Ocorre que, ao entrarmos, recebemos uma réplica do cartão de embarque de um dos passageiros e somente na saída saberemos se ele foi resgatado com vida. Eu segui as instruções comovido e deixei que ele me conduzisse.
Meu coração palpitou diante das centenas de nomes separados entre passageiros e tripulantes, relacionados na parede, quando se encerrou a visita. Com olhos atentos, procurei, desesperadamente, por Benjamim entre os sobreviventes. Foi frustrante. Meu atencioso amigo inglês ficou pelo mar. Senti uma tristeza real e comovente, diferente de algumas pessoas que diziam entre si, sorridentes, que Sir Fulano de Tal tinha morrido. Piada sem graça, eu pensei.
Garanto a vocês que ficar diante daqueles objetos, ler relatos marcantes, tocar em um pedaço do casco e ouvir os sons da noite do dia 14 de abril de 1912, véspera de meu aniversário, fizeram-me ter a sensação, sim, de ter feito aquela viagem. Juro que senti exatamente isso... e gostei.

A exposição permanece aqui em Brasília até o final do mês de julho, na parte externa do Parkshopping.

Nota: Sr. Benjamim Hart , natural de Ilfor, Essex, Inglaterra, era um empreiteiro em dificuldades financeiras. Motivado pelo crescimento do Canadá, levava a família para a terra prometida.Pretendia reconstruir a vida na América, encorajado pelo amigo Wlliam, empreiteiro em Winnipeg.
A esposa de Benjamim, Esther, tinha muito receio do Titanic;  ficava acordada a noite toda, protegendo sua família, e dormia a maior parte do dia. Ela e a filha Eva sobreviveram.




imotion.com.br


quarta-feira, 13 de julho de 2011

O melhor roteiro do inverno vai para "Palaphita Kitch"

Uma surpresa  sofisticada e encantadora. É assim, com um cardápio de sentimentos, que explico a satisfação de descobrir o Palaphita Kitch, na Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro.
Foi num início de noite dias atrás. Um frio intenso, ampliado por vento, nos perseguiu numa caminhada do estacionamento até a surpresa prometida pela amiga maranhense Airam Vieira. Nunca senti tanto frio no Rio e ouvi essa declaração de cariocas da gema, também.
Quando chegamos ao quiosque 20, beira da lagoa, no Parque do Cantagalo, eu olhei com alguma desconfiança, logo superada. A proposta  inovadora é inspirada na floresta amazônica, o que me fez lembrar uma noite no interior da África do Sul.
Com tudo em madeira rústica, amplos bancos envolvem mesas simpáticas na parte externa. Tochas iluminam cada pequena "sala" ao ar livre e na parte interna, com pouca luz, o ambiente é  ainda mais místico e romântico. Lugar certo para conversas íntimas e quase inaudíveis. Espaço para namoro sério.
O cardápio é inovador e revela combinações marcadas pelos sabores da Amazônia e que podem ser acompanhados até por vinhos dignos. O atendimento dos garçons é diferenciado.
No nosso caso, um grupo de oito pessoas, combatemos o frio com mantas (fornecidas pela casa), vinhos chilenos e australianos com carpaccio de javali, queijos flambados em aguardente e uma bruschetta de personalidade marcante, menos italiana que as receitas de costume. Mas você pode ter muitas alternativas exóticas.
O melhor da “casa de floresta", premiadíssima nos três últimos anos, é se sentir num lugar tranquilo, quase sagrado, em uma área urbana da cidade onde seria pouco provável imaginá-lo. Sentado e com uma taça de vinho na mão, eu olhava, sem nenhuma saudade, na margem oposta, as luzes silenciosas dos carros da cidade "distante".
Programe um café da manhã, um final de tarde ou uma noite inesquecível.
Você ainda poderá ver antas e javalis no entorno do quiosque. Notei que não se mexiam.
As fotos abaixo, do site oficial, podem ajudar a entender este roteiro surpreendente.

 

sábado, 9 de julho de 2011

Um fanático pode ganhar o Nobel de Medicina

Miguel Ângelo Laporta Nicolelis (50), médico e cientista brasileiro, é um paulista capaz de causar orgulho a brasileiros de qualquer estado ou região. Seu currículo e méritos são tão extensos que eu vou logo sugerindo que visitem a Wikipédia. Ainda que eu fizesse um resumo, ocuparia muitas páginas.
Mas é preciso destacar que ele é o primeiro brasileiro a ter um artigo publicado na capa da revista Science, é um fortíssimo candidato ao Nobel de Medicina em 2011 e foi o criador do Instituto de Neurociências de Natal (RN), entidade não governamental que visa popularizar a ciência no Brasil.
O trabalho de Miguel pode ser definido pela busca intensa na maior compreensão do funcionamento do cérebro humano, visando seu melhor aproveitamento pela nossa raça e sua interação produtiva e ética com os avanços tecnológicos que este mesmo cérebro produziu até aqui, como as máquinas.
Miguel estuda, trabalha e acredita na capacidade e poder ilimitados que temos. De minha própria crença, digo que há milhares de anos alguns “cientistas” já pregavam sobre isso. Muitos experimentos foram descritos como milagres. Um deles se chamou Jesus, outro Buda e por aí vai.
Ele está lançando um livro pela Companhia das Letras para difundir tudo isso. O título é cientificamente longo: “Muito além de nosso eu – A Nova Neurociência que une cérebro e máquina e com ela pode mudar nossas vidas”. É uma boa leitura para quem gosta do assunto.
Nicolelis pretende surpreender na Copa de 2014. Um jovem deficiente, provavelmente paraplégico, vai usar uma veste robótica e dar o pontapé inicial no jogo de abertura da Copa.
Mas o médico tem em seu DNA algo que é bastante vulgar, nada científico e até questionado.
Ele é FANÁTICO por futebol e pelo Palmeiras. Eu cito apenas duas demonstrações dessa paixão: Em sua página na Universidade de Duke (EUA) tem um link que o transporta para site do time paulista e foi capaz de proferir uma palestra para cientistas, na Suécia, com a camisa do Palmeiras. Explicou que aquele dia era dedicado ao clube e todos os torcedores de verdade têm que vestir a camisa. Agora, imaginem a reação daquela platéia.
Miguel, meus caros leitores, é candidato ao Nobel de Medicina em 2011, repito, e tem enormes chances de ser escolhido.
Este post é dedicado àqueles que entendem o que este blog pretende compartilhar e por quais razões tem esse nome.
É, ainda, um respeitável protesto a outros que reprimem desejos, levam tudo muito a sério e cobram sempre este comportamento dos que estão por perto.
Fica a lição de Miguel: em seu cérebro (e nos nossos) podem conviver poderosamente tanto as virtudes de um cientista produtivo e dedicado às grandes causas como um torcedor apaixonado e que não faz mal algum a ninguém.
O cientista, contudo, é humano e assim teria que ter algum “defeito”. Ele bem que podia ser Fluminense.






sábado, 2 de julho de 2011

"Eu Não Me Lembro..." - depoimento surpreendente de uma criança.



Em dois posts anteriores, De Hollyood para o Mundo Animal 1 e 2, escrevi sobre a África. No primeiro, relatei que tinha ido à Copa do Mundo de 2010 e sugeri filme e livros sobre Mandela. Lembrei que visitei o famoso bairro de Soweto, que ficou conhecido pela resistência dos sul-africanos negros ao regime do apartheid.
Hoje, vou compartilhar como consegui aquela proeza inesquecível.
Já deu para notar que uma das minhas paixões é o futebol. Timidamente, aqui e ali, escrevo algo sobre este esporte mágico e sedutor.
Fui uma criança como muitas pelo mundo afora. A bola era mais que um brinquedo.
Na infância e juventude, o futebol exerceu uma influência extraordinária em minha vida. Jogador amador de botão, eu tinha "estádio" em casa e fui um razoável aprendiz do talento de meu pai, Douglas Furtado, para o futebol de mesa.
Um dos meus sonhos era ser um jornalista esportivo. Como descobri cedo que ser um jogador  não seria muito fácil, ficar ao lado do campo, vendo treinos e jogos, parecia-me  uma compensação inteligente.
Fiz o curso de jornalismo, mas a carreira não teve início, por razões que não importam agora.
Eu prometi à minha filha mais nova, em 2007, que iríamos à Copa da África do Sul. Mas a promessa era mais um sonho do que um projeto. Não dispunha, como até hoje, patrimônio para tal ousadia, especialmente a de levar a família.
Entretanto, aquele menino apaixonado ressurgiu. Como um fantasminha, apareceu e disse:
-  E ai, mais uma Copa e nada. Tu és só conversa e sonho.
Eu respondi:
- É... Tu tens razão. E eu parecia tão convencido quando prometi para Tamires que nós iríamos.
Mas ele não se convenceu e introduziu uma ideia infantil em minha cabeça:
- Cara, por que tu não procuras um concurso pela internet. Desses que tem que escrever alguma coisa, adivinhar outra?
Minha mente infantil despertou. Valeu "fantasminha". Vamos para a internet.
Sentei e comecei a entrar em todos os sites de programas esportivos das redes de TV. Procurava um concurso cultural, nada de pura sorte. Tinha que ter disputa, ideias, escrever alguma coisa, enfim. O garoto apaixonado agora estava animado.
Encontrei uma promoção no site do ESPN. O Canal levaria dois brasileiros, com acompanhante, para passar sete dias na África e assistir ao jogo do Brasil pelas oitavas-de-final com tudo pago e mais 500 dólares. Caso a seleção não chegasse lá, outro jogo seria o consolo. Que consolo!
A pergunta do concurso era:
“Como o futebol faz você esquecer de tudo?”
As duas respostas a serem escolhidas deveriam ser criativas, bem escrita etc. As exigências típicas em concursos assim.
Respirei fundo e decidi que eu ia à Copa. Vale aqui frisar esse ponto: a primeira medida tomada foi escolher que eu ia ganhar. Participar não tinha graça nenhuma.
As primeiras frases que escrevi eram péssimas, longas e óbvias. Tomei a decisão de parar, relaxar e recomeçar depois. Eu sabia que tinha que escrever algo arrebatador, definitivo, embora eu não soubesse exatamente o quê.
Pensando bem, para um apaixonado (e  criança) não é tão fácil responder àquela pergunta. É difícil explicar através de uma frase, disputando uma “vaga” para a Copa, algo que é tão pessoal.
Fiquei olhando para a pergunta detidamente. Esse tal de “como” tornava a coisa mais difícil. Se fosse “por que” talvez surgisse uma resposta inspirada.
Aí eu conclui que não sabia explicar como eu “esquecia de tudo” e me veio a única resposta sincera e bem infantil:
“Eu não me lembro”. Afinal , eu esqueço de  tudo...queria dizer.
Caracas... É isso!  Como é que eu vou me lembrar se o futebol me faz esquecer de tudo?
"Lasquei" a frase sozinha e depois completei a explicação:"Eu esqueço de tudo".
Comuniquei em casa a minha decisão e relatei a frase mágica.
Minha mulher riu, mas riu mesmo e ainda perguntou se eu achava  que poderia ganhar. Ela foi franca e razoável.
Mas eu tive apoio e uma esperança vindos da Tamires: “Pai, legal”.
Eu decidi que minha frase era boa e competitiva. Disse com certeza e não escrevi mais nenhuma. Eu sabia que havia ganhado e ainda pensei (criança é fogo): Quando essa turma do ESPN  ler a resposta ,  vai dizer  "essa é a frase do concurso".
Eu escrevi mais ou menos vinte dias antes do término do concurso. Por alguns dias até esqueci. Naturalmente, no dia do resultado entrei em minha caixa de e-mail atrás da mensagem da vitória. Nada. Eu deveria esperar até o final do dia e,  relendo o regulamente, vi que poderia ser avisado também por telefone.
O dia passou. Chegou a noite. Sentei para assistir televisão e a cabeça do adulto não permitiu que a criança lembrasse o concurso. Sinceramente, eu ia dormir na noite da revelação e talvez só lembrasse no dia seguinte.
Meu celular estava sobre a mesa. Lá pelas nove, em plena novela, ele toca. Atendi automaticamente. Do outro lado da vida, diz uma voz feminina:
-Esse celular é do Danilo?
-Sim, é ele. Quem fala?
-É do departamento de marketing de uma empresa de São Paulo. Você tem um minuto?
-Olhe, desculpe-me, mas eu não estou interessado em nada. Que empresa é?
-Danilo, calma. Responda a pergunta que eu vou lhe fazer: Como o futebol faz você esquecer tudo?
Silêncio. O total silêncio que um ser humano pode “escutar”. Coração disparou, mas o garoto não ia perder a pergunta:
- “Eu não me lembro”, disse com coragem e uma cara de espanto.
-  Você esquece de tudo, não é? completou do outro lado a voz feminina.
O que se seguiu, minha gente, foi uma alegria, uma perplexidade em casa, um tal de olhar um para o outro, não dá para descrever. Imaginem.
A paixão venceu.
Passou um filme pela minha cabeça desde a infância. Foi, sim, uma das noites mais felizes na vida daquele menino tímido, que dormia com a bola e não desgrudava do rádio de pilha com que ouvia todos os programas  sobre esporte e só dormia depois as 23horas, pois esse era o horário da última resenha da Rádio Globo. Ele ouvia, de novo, tudo que já sabia sobre o Fluminense e os demais times.
Naquela noite, eu aprendi uma das mais importantes lições de minha vida e que compartilho como uma recomendação:
“Mantenha viva a criança que você foi um dia. Ela é a sua única parte que sonha sem limites, com toda inocência, sem  medo e culpa”.
A viagem foi uma aventura maravilhosa, repleta de surpresas.
Prometi para Tamires, cheio de certeza, que ela vai à próxima Copa do Mundo.


Segundo gol do Brasil contra o Chile (3x0). Luis Fabiano, encoberto pelo número  5, vai tocar a bola para o gol, depois de driblar o goleiro. Kaká está à sua direita e Robinho acompanha pela esquerda. Estádio Ellis Park,  Joanesburgo.
Foto  de Rosane Furtado, minha mulher e acompanhante.