segunda-feira, 18 de julho de 2011

Eu estive no Titanic na noite do naufrágio

Quando eu tinha uns dez anos li sobre o naufrágio do Titanic. Lia e relia a história com grande interesse em uma edição (livro) de capa dura de "Seleções”, conhecidíssima publicação Readers Digest.
Mais recentemente, milhões de pessoas pelo mundo afora ficaram impressionadas pelo filme extraordinário, “Titanic” (EUA-1997), dirigido por James Cameron e estrelado pela dupla Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.
Aliás, este filme é um dos 10 melhores de todos os tempos.
Neste final-de-semana eu encontrei o famoso navio aqui em Brasília, ancorado ao lado de um shopping.
Fui recebido, na entrada,  por Benjamim Hart, passageiro inglês que ocupava uma cabine na segunda classe. O coração disparou e me invadiu uma emoção única e surpreendente quando pisei no deck.
No convés, espiei por uma das vigias do navio e bisbilhotei o salão de festas. Ouvi a música suave da  orquestra. Diante da escadaria principal, contive-me para não subir os degraus sem autorização.
Benjamim me explicava tudo com grande atenção e detalhes. Mostrou-me parte da louça e pertences dos hóspedes, que cuidadosamente identificava pelas classes, apontando onde ficavam seus aposentos e as diferenças existentes entre eles.
Parei e fiquei admirando um camarote da primeira classe. Havia, ainda, roupas sobre a cama, uma cartola e um chapéu de uma dama da época sobre a mesa. Os ocupantes deveriam estar passeando pelo navio, mas a mesa de refeição já estava posta, com talheres, pratos e copos finos.
Mais adiante, a entrada da caldeira fazia barulho e me assustou pelo enorme tamanho das pedras de carvão usadas para movimentar tantas máquinas.
Meu guia me apontou bolsas de couro, garrafas de vinhos e cervejas inglesas, e até uma certidão de casamento que fora encontrada junto com papéis de carta, cartões, sapatos e um urinol usado nas cabinas de terceira classe. Fiquei encantado por uma pequena caixinha de metal onde um hóspede guardava, cuidadosamente, as indispensáveis lâminas de barbear Gillette. Que registro de um tempo!
Nossos ouvidos estavam preenchidos pelos sons que vinham do mar e que se misturavam com os dos motores, numa noite estrelada, fria e misteriosa.
"Ouvimos" de um passageiro de primeira classe que aquela noite sem lua, mas repleta de estrelas, "estava tão linda que justificava agradecer a Deus pela existência".
Os passageiros e tripulantes estavam muito felizes. A noite de 14 de abril de 1912 separava-os por apenas dois dias de Nova York. A ansiedade era grande e o comandante decidiu usar força máxima, afinal aquele navio não podia ser contido, mas a decisão não fora a melhor.
De repente, percebi que já estávamos novamente no local por onde entrei. Benjamim desapareceu e surgiu em minha mão uma ficha que relatava sobre o anfitrião que me acompanhou pelo navio.  
Vocês devem estar achando que o meu lado obscuro (louco) se apresentou, finalmente, num relato um tanto insólito.
Na verdade, descrevo o que senti visitando “Titanic: A Exposição – Objetos Reais, Histórias Reais”, que contem 200 itens retirados do fundo do mar, apresenta relatos, curiosidades e recria a atmosfera de uma tragédia.
Vinte e dois milhões de pessoas, em 85 cidades do planeta, já a visitaram.
Ocorre que, ao entrarmos, recebemos uma réplica do cartão de embarque de um dos passageiros e somente na saída saberemos se ele foi resgatado com vida. Eu segui as instruções comovido e deixei que ele me conduzisse.
Meu coração palpitou diante das centenas de nomes separados entre passageiros e tripulantes, relacionados na parede, quando se encerrou a visita. Com olhos atentos, procurei, desesperadamente, por Benjamim entre os sobreviventes. Foi frustrante. Meu atencioso amigo inglês ficou pelo mar. Senti uma tristeza real e comovente, diferente de algumas pessoas que diziam entre si, sorridentes, que Sir Fulano de Tal tinha morrido. Piada sem graça, eu pensei.
Garanto a vocês que ficar diante daqueles objetos, ler relatos marcantes, tocar em um pedaço do casco e ouvir os sons da noite do dia 14 de abril de 1912, véspera de meu aniversário, fizeram-me ter a sensação, sim, de ter feito aquela viagem. Juro que senti exatamente isso... e gostei.

A exposição permanece aqui em Brasília até o final do mês de julho, na parte externa do Parkshopping.

Nota: Sr. Benjamim Hart , natural de Ilfor, Essex, Inglaterra, era um empreiteiro em dificuldades financeiras. Motivado pelo crescimento do Canadá, levava a família para a terra prometida.Pretendia reconstruir a vida na América, encorajado pelo amigo Wlliam, empreiteiro em Winnipeg.
A esposa de Benjamim, Esther, tinha muito receio do Titanic;  ficava acordada a noite toda, protegendo sua família, e dormia a maior parte do dia. Ela e a filha Eva sobreviveram.




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