sexta-feira, 18 de março de 2011

A nossa bagagem vai nos matar.

Eu começo objetivamente: a tragédia no Japão(refiro-me ao terremoto e ao tsunami subsequente) não tem relação alguma  com o aquecimento global.
Não faz parte de um roteiro de previsão das consequências da ação do homem sobre o planeta. A nossa querida e maltratada Terra, nossa bola maior, tem sua própria vida e hábitos, e não se importa muito conosco, e nem deveria, eu acho.
Entretanto, este evento deve nos levar à reflexões sobre a ocupação do planeta e o modo de vida que hoje cultivamos.
A verdade é que hoje somos muitos, estamos em todos os lugares e levamos conosco nossas tralhas, desde um saco de coisas velhas da infância até as usinas nucleares.
A maioria de nós detesta argumentos ambientalistas quando estes sugerem mudanças em nossos hábitos tão prazerosos. No máximo, a maioria admite que seja verdade, que essa vida é muito estressante, mas não faz absolutamente nada além de trocar sua geladeira antiga por uma nova, mais eficiente ou, já no campo do mero prazer e competição social  substituir a TV de LCD pela de LED, cuja definição é melhor e o som, dizem os vendedores, é quase igual ao do cinema. Sim, ia esquecendo, todos dizem aos amigos que assistiram ao documentário do Al Gore que é impressionante e que devia ser visto pelos jovens.
A questão essencial que este  caos japonês estabelece, incluindo aqui em grande e maior relevo o acidente nuclear, ao invadir a nossa casa confortável e trazer algum nível de medo, conforme nossa proximidade da ilha do sol nascente, é se conseguiremos continuar vivendo levando as velhas bonecas e as usinas a todos os lugares, quanto tempo esse piquenique vai durar e quem vai catar moedas espalhadas pelas ruas de entulhos onde ficava o banco.
Reveja a cena daquele navio “estacionado” no meio da antiga rua da cidade japonesa e pense em um cofre retorcido de portas abertas pousado numa calçada.
Hoje, quando descobrimos um novo paraíso ecológico, um novo “destino turístico”, se é que ainda existe algo para descobrir, irremediavelmente temos que levar um monte de tralhas para lá vivermos, ainda que a passeio. Esse lugar que sempre conviveu com a nossa "Bola" se mexendo ,enchendo, vazando, esfriando, esquentando, nascendo e morrendo em suas plantas raras, não se importa com a nossa presença durante algum tempo, mas em seguida avisa: seu jeito de ter prazer não combina muito comigo. Um dos dois vai acabar se sentindo mal.
Eu sei que essa conversa incomoda. Eu sei que já há alguns milhares de linhas, ou “bilhares”, dizendo com muito mais precisão, acerto e categoria o que aqui resmungo.
Mas os tremores da "segunda economia" do planeta devem ser levados a sério.
Não estou aqui discutindo este ou aquele modo de produção de energia, embora  isso deva ser feito com muita seriedade e lucidez. Estou dizendo que o perigo é que nos multiplicamos e nos espalhamos de modo trágico, estressante, obeso, cancerígeno, senil, irritante, engarrafado, poluído, ganancioso e insaciável. Nossos brinquedos e caixinhas de tesouros estão nos matando.
Há um filme de ficção científica intitulado  "O Dia em que a Terra Parou" (2008-EUA), que mereceria ser revisto. Nele, alienígenas invadem a terra para destruir apenas a nós, humanos. Seu objetivo não é nos dominar e ficar com as nossas riquezas naturais. É simplesmente salvar o planeta, patrimônio de todo o Universo. O líder da matança, interpretado por Keanu Reeves (Alguém Tem Que Ceder/ A Casa do Lago) tenta falar com os nossos chefes para evitar a sua ação, mas é rechaçado e então segue com o plano. Contudo, é convencido a nos dar uma chance, influenciado por uma cientista, vivida por Jennifer Connelly (Ele Não Está Tão a Fim de Você/ O Dilema), que lhes diz haver certo sentimento nobre, que poderia ser chamado de amor no sentido mais amplo, que habita esquecido entre nós e que poderia nos humanizar. Seduzido por esta esperança, nosso matador, no último ato, afugenta seus “soldados” e nos dá uma última e derradeira chance.
O filme não ganhou indicações para o Oscar, mas é, seguramente, oportuno.E talvez,ao assistirmos, sejamos incentivados a aproveitar alguma chance que ainda nos resta no mundo real.








Nenhum comentário:

Postar um comentário