terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O melhor "Chibé de Rabada" de Ipanema

Era uma manhã de sábado com cara de segunda. Fria e nublada.
Consegui antecipar meu voo, sem nenhum custo, e ganhei de presente de Natal da companhia uma poltrona “conforto”, como se diz hoje. Gostei da regalia.
Quando o avião se aproximava do aeroporto, fez uma curva diferente do habitual e passou bem pertinho do Cristo Redentor.
Da janela, vi o “cara”, muito próximo. Cena rara nestes últimos meses e muito adequada para a época. Olho no olho, pedi proteção e agradeci por tudo. Tive a impressão que olhou exatamente para a minha janela. Chegada abençoada. Natal Feliz.
Na fila do taxi, organizei meu roteiro. Telefonei para o primo a quem iria visitar e parti com destino à Visconde de Pirajá, em Ipanema.
Em seguida, uma parada técnica no Rota 66, bar-restaurante mexicano, tipicamente da região, na Farme de Amoedo, rua conhecida pela predileção de todos os gêneros.
Gosto desse bar e os primeiros chopes, com colarinho de dois dedos, inundaram a minha alma.
O terceiro não chegou por que outros primos me convocaram para um mais famoso, o Bracarense, no Leblon.
Cheguei de mala e cuia no destino: a mala de bordo numa mão e o terno de trabalho da segunda-feira, devidamente protegido, na outra. Foi a primeira vez que cheguei a um bar nessa condição. Lotado, seguramente ninguém notou ou se importou com a cena.
Chegaram, então, o segundo e terceiro chopes.
O primo mais velho, com seu humor inteligente e felino, fez uma ligação e determinou:
Vamos agora para a “Nossa Casa”, na Paul Redfern, fronteira do Leblon com Ipanema.
Eu disse, com mesmo humor, que esperava que esse novo bar fosse de primeira.
Ele prometeu lugar sossegado, aconchegante e open bar, com variedades: uísque, vinho e cerveja.
A vedete da mesa seria uma “rabada” incomum, completou, delicada e macia, obra prima da chefa da cozinha do lugar. “E vamos que vamos”, dissemos todos.
O lugar era mesmo como ele prometera. Reservou uma mesa de oito lugares, na parte de cima e acesso fácil ao banheiro. Uma família adorável já curtia seu sábado. Lugar de primeira, com espaço para as crianças brincarem.
Troquei a espuma por um copo cheio de gelo e malte original. Perfeito.
Mais um pouco e ela chega, a “rabada” sugerida. Seria a minha segunda vez com a iguaria. Confesso que não aprecio (ava). Mas não há nenhum pingo (não é pinga) de preconceito. Simplesmente evitava.
Mas, no “vamos que vamos”, topei. Adequadamente quente, com molho vasto e simpático, cor de rabada, coloquei um pedaço no prato e fui...
A carne saborosa que envolvia as partes mais duras, vamos assim dizer, o osso, estava requintadamente bem temperada e macia. Dissolveu.
Para completar, chega um punhado de farinha de Pinheiro, cidade da baixada do Maranhão, metida a ser a mais crocante e amarela farinha d’água da região.
Não resisti. Duas colheres de sopa da famosa que foram encharcadas por três daquele molho cheio de personalidade. Do lado, um tricolor cirurgião diz: isso se chama “Chibé”, um clássico da cozinha maranhense.
Felicidade preencheu toda a boca e tive que repetir, discretamente.
Depois desse roteiro interestadual, a notícia triste da perda do conterrâneo Joãozinho, o Trinta, ficou assim mais amenizada.
O roteiro daquele sábado bem que poderia terminar com um samba e uma pitada de gênio. Será que João gostava de rabada?

"Rabada"  abençoada por Ele

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