terça-feira, 14 de junho de 2011

"Wilson" mora lá em casa


Fonte:google imagens

Há tempos venho rascunhando um post sobre um velho computador de minha família. Acho que chegou a hora. Não que esta mágica e instigante máquina dos tempos modernos me fascine e mereça um texto. Para mim é apenas uma ferramenta que domino com extrema modéstia e timidez.
Mas a história tem tudo haver com cinema.
Em 2006, eu fui morar em Brasília. Fiquei durante seis meses em um hotel da cidade, experimentando uma vida nova, tragicamente longe de minha família e com todas as consequências deste infortúnio.
Para facilitar o combate à saudade diária, comprei um computador, um notebook, que ficava ligado o tempo todo no apartamento, mesmo na minha ausência, para receber mensagens de casa.
Habituei-me, então, a esta nova companhia. Era muito confortante chegar do trabalho e, ao entrar na sala do apartamento, ver a tela do computador aberta e diversos sinais de vida além Brasília, os recadinhos de casa.
Quase que imediatamente eu sentava à mesa para responder e chamar mulher e filhas às conversas de cada noite.
Por este aspecto, chamei o computador de Wilson, a bola de vôlei que foi a companhia do personagem de Tom Ranks em "Náufrago", filme extraordinário, um dos meus de cabeceira, que todos vocês certamente já assistiram.
É claro que o meu "sofrimento" não se comparava ao do personagem, longe disso. Mas eu via o computador como o Wilson do filme. Era o meu sentimento, modestamente.
Certa vez, entretanto, eu ia para São Luís, onde passaria o final-de-semana, voltaria a Brasília e, por conta de feriado prolongado, retornaria à ilha apenas dois dias depois para passar longos quatro dias. Uma beleza, como se diz.
Assim, diante daquela coincidência, decidi que levaria o Wilson e o deixaria lá, poupando-lhe as chatas viagens de avião. Assim foi feito e eu voltei para Brasília sozinho.
Ao final do dia de trabalho, voltei para o hotel como fazia costumeiramente.
Abri a porta do apartamento e, como se tivesse esquecido a escolha, deparei  com a cena horrível: a mesa estava vazia. Wilson não estava lá. Meu Deus, "cadê" Wilson? O que houve? Eu estava sozinho!
É claro que me lembrei daquela cena terrível do filme, quando ondas, plácidas até, levaram a bola-amigo-único de Chuck Noland..
Corri para o telefone e disquei para casa: "Gente, eu fiz uma loucura. Eu deixei o Wilson ai, como vou passar estes dois dias"?
É, parece uma piada... uma história inventada pela falta de assunto ou apenas uma desculpa para sugerir que revejam o filme.
Mas não. É um desabafo, para muitos até inconfessável, que compartilho pela emoção que me causou.
Wilson era uma grande companhia. Tornou-se o elo entre dois mundos, uma luz a atravessar a saudade, tornando-a melhor, menos insone.
Evidente que lá em casa houve mais risadas que solidariedade. Nunca mais deixei Wilson até que a família se reunisse, novamente, seis meses depois.
Hoje, Wilson está aqui em Brasília, quase aposentado e substituído por novos aparelhinhos vaidosos. Os três “Ais”: Ai phones, pads e pods.
Combinamos de não lhe mostrar os intrusos. Para que não tenha um final de vida mais sofrido, nunca usamos os novatos no seu quarto.
Wilson se tornou um membro da família, com serviços prestados, inclusive para as almas solitárias, e vai nos acompanhar por muito tempo.
O filme "Náufrago” (EUA-2000) é extraordinário e isso ninguém tem dúvida.
Foi dirigido por Robert Zemeckis, o mesmo de "Gump - O Contador de Histórias".
As filmagens foram interrompidas durante alguns meses para que Tom Hanks perdesse 20Kg  e gravasse o período em que ficou na ilha, após o acidente.
A atriz Helen Hunt (Quando me Apaixono/Do que as Mulheres Gostam) recebeu US$ 1 milhão pela participação.


Um comentário:

  1. Boa tarde meu amigo, que história!

    Bom, agora que consegui me conectar ao seu blog, que por sinal tem assuntos extraordinários, chegando a compartilhar momentos vividos para nos trazer emoção, como nomeado o próprio blog.

    Compartilho de sua perda temporária, aconteceu comigo com um calular, mas por pouco tempo, tendo que retornar à minha casa para buscá-lo, isso quase chegando no trabalho. E o que um smartphone faz conosco hoje, tornamos dependentes.

    O melhor de tudo é que hoje a família está reunida compartilhando juntos, emoções do dia a dia.

    Grande abraço!

    Junior Brandão

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