segunda-feira, 20 de junho de 2011

Meu Primeiro(e único) Rolex

tripmais.com

Eu assisti a uma entrevista de Petkovic, o craque sérvio que fez justo sucesso no Brasil, recentemente. Relembrava o tempo em que jogou na China, em Xangai, e destacava algumas curiosidades daquelas bandas do planeta.
Lembrei-me de minha viagem, em 2004, àquela curiosa e encantadora cidade.
Xangai é espetacular no superlativo. Com uma população de mais de 13 milhões(é o município mais populoso do mundo) de gente muito parecida, é um frenesi só e  supera, neste sentido, a nossa gigante Sampa.
Laboratório do partidão chinês, que decidiu há alguns anos atrás trocar, com jeitinho, o comunismo por um regime que eles ainda não sabem definir, Xangai se tornou uma atração de ousadias.
Cosmopolita, a cidade tem uma arquitetura futurista, convivendo com seus bem conservados bairros antigos e todos os problemas de um trânsito enlouquecido, especialmente porque só há pouco tempo os chineses passaram a ter o direito de dirigir seus próprios veículos. Chega a ser divertido ver os chineses buzinando excitados diante de centenas de bicicletas e pedestres que ignoram os carros. Aliás, quando o sinal abre os motoristas têm que esperar mais ainda, pois a "passeata”  precisa de mais tempo que o programado para o sinal permanecer fechado.
A convivência de realidades de tempos que parecem se desafiar é, de certo modo, um detalhe que me encantou. Em uma das minhas caminhadas pela quadra do hotel, vi, emocionado, chineses antigos fazendo seus exercícios de Tai Chi Chuan,  indiferentes ao burburinho das seis horas da manhã.
Curioso, também ouvi o depoimento de moradores que explicam que em duas ou três semanas uma quadra pode desaparecer para dar passagem a um novo viaduto ou túnel. Há muita gente, casa e prédios que precisam sair para dar passagem. Estas histórias eu ouvia com agonia, é claro.
Naquela ocasião, Xangai possuía o mais alto edifício do país e terceiro do mundo. Com 421m de altura, o Jin Mao Tower era a melhor expressão do novo regime. Símbolo  das pretensões planetárias dos novos chineses, de seu último 88° andar tive uma visão cinematográfica: sob um céu cinzento (poluído) uma cidade sem fim e dezenas de torres de vidro e concreto me lembraram desenhos animados de minha infância, que projetavam um mundo em que os humanos usavam veículos voadores e quase não pisavam no chão. Hoje, aquela "coisa" é apenas o 6º edifício mais alto do planeta.
Mas há muita diversão em Xangai, desde locais para as baladas mais ocidentais possíveis  às feiras de ruas conhecidas por aqui, com pequenas diferenças: os produtos são "originais” e os negócios são feitos na língua de sinais e, pasmem, nós "ganhamos" descontos.
Bem, não é exatamente assim. Na verdade, sem falarmos nenhuma das dezenas de dialetos, incluindo o mais famoso mandarim, só nos resta falar com os dedos e caretas. Nem pensem em inglês. Como eles são os mais espertos comerciantes do mundo, colocam os preços lá em cima e vão deixando você pechinchar até o que nossa vã filosofia acha justo: o preço que lhes serve. Uma festa para os dois lados.
Foi assim que me diverti na principal e mais famosa feira de rua da cidade. Até hoje tenho um orgulhoso Rolex chinês, que parece rir de mim o tempo todo.
Finalizo com outras duas imagens marcantes:
Em uma das madrugadas insones pelo fuso (11 horas) e por outras vinte e duas de voo, logo na minha chegada, resolvi ir para a varanda de meu quarto, num andar alto do hotel. Fiquei impressionado pelo número de carros que escorregavam por uma enorme alça de um elevado. Uma procissão de veículos frenéticos às três horas da manhã. Sim, a madrugada de Xangai parece o dia.
A segunda é uma visão durante a chegada ao território chinês, também do alto. Grande parte do voo de Frankfurt (Alemanha) para Xangai desliza pelo território continental da China. Encostei a cabeça na janela e mergulhei no infinito. O infinito de terras que não acabavam nunca, com vales, rios e cadeias de montanhas decoradas com neves eternas em seus cumes. Ali eu percebi a nossa fragilidade, insignificância e prepotência imbecil que nos atrapalha.




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